A partir da esquerda: advogado e conselheiro da OAB SP, Roberto Delmanto; secretária-geral adjunta, Gisele Fleury; presidente da Comissão da Mulher Advogada, Kátia Boulos; presidente da OAB SP, Marcos da Costa; e secretário da Educação do Estado de São Paulo, José Renato Nalini durante a homenagem a Lygia Fagundes
Homenagens, reflexões e o lançamento da Campanha da Mulher Advogada de 2016 marcaram o evento dedicado ao dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher, organizado pela Comissão da Mulher Advogada da OAB SP, com total apoio do Departamento de Cultura e Eventos da Ordem paulista. Durante a manhã e a tarde, o Teatro Gazeta recebeu muitas advogadas e convidadas para participarem das discussões sobre temas como o papel da educação no combate à violência doméstica e a presença feminina nos espaços de poder, além de compartilharem a homenagem à escritora Lygia Fagundes Telles.
Aplaudida de pé pelo público enquanto era conduzida pelo presidente da OAB SP, Marcos da Costa, dos bastidores ao centro da mesa montada no palco do teatro, a primeira brasileira indicada ao Prêmio Nobel da Literatura fez os olhos marejarem de homens e mulheres que ocupavam a plateia, com sua delicadeza, firmeza e objetividade. Aos 92 anos, Lygia se manteve atenta durante os discursos dedicados à sua trajetória pessoal e profissional. Sorriu e aplaudiu todos os que lhe dedicaram à palavra, em especial, o sobrinho-neto, o advogado e conselheiro da OAB SP, Roberto Delmanto Júnior.
Para explicar a importância que a tia-avó teve em ajudá-lo a compreender o universo feminino, Delmanto recorreu a passagens de livros e memórias pessoais que revelaram traços da personalidade da autora também formada em Direito pela Universidade de São Paulo (USP). Ressaltou ainda que, por sua coragem em ocupar espaços majoritariamente masculinos, Lygia Fagundes Telles é uma feminista, sem almejar esse título. Sobre a indicação dela ao prêmio Nobel da Literatura, quem falou foi o secretário da Educação do Estado de São Paulo, José Renato Nalini, e ressaltou que, pela qualidade de sua obra, se ela tivesse nascido na Inglaterra ou na França, ela já teria o título. “Nós brasileiros temos que nos mover, as redes sociais estão aí para isso. Devemos mostrar o quanto sua obra tem qualidade”, convocou.
Apesar das dificuldades de locomoção, Lygia caminhou até o púlpito para agradecer às homenagens. Lembrou que na época em que nasceu ter uma filha mulher não era um motivo de comemoração: “A parteira disse à minha mãe: ‘que pena dona Zazita (Maria do Rosário de Azevedo), é uma menina”, recordou aos risos a escritora que, na juventude, sonhava cursar a faculdade de Direito do Largo São Francisco, apesar do destino da maior parte das mulheres ser a escola normal do Brás ou da Praça da República. “Era um sonho quase impossível, também por causa da crise que vivíamos na época. Fui morar com a minha mãe numa pensão e arrumei um emprego. Ainda assim, não perdi as esperanças, prestei os exames e passei”, relembrou a escritora, que, ao conquistar seu objetivo, foi questionada por seus colegas na faculdade: “Me perguntavam se eu estava lá para arrumar marido. Eu disse que também”, gracejou, “mas não só” e deixou uma mensagem aos presentes: “A faculdade de Direito do Largo São Francisco era um sonho, não desistam dos seus sonhos. Um dia eles serão realidade”.
Campanha 2016
Marcos da Costa, presidente da OAB SP, exibe o cartaz da campanha pela valorização da mulher advogada
Para reforçar o trabalho que a OAB vem fazendo pela valorização das profissionais do meio, 2016 foi nomeado o ano da mulher advogada. O mote da campanha da Secional paulista, lançada no sábado (05/03), foi: “Nós somos mais elas. A OAB SP acredita na força da mulher para transformar a sociedade”. A presidente da Comissão da Mulher Advogada, Kátia Boulos, disse que todos os esforços têm sido direcionados para incentivar a participação das mulheres. “Nossos planos estão voltados para implementação do Plano Nacional de Valorização da Mulher Advogada com a efetiva participação das profissionais na Ordem e a proteção de suas prerrogativas”, declarou.
Após o lançamento, os trabalhos começaram imediatamente com palestras e debates. Convidado para falar sobre o papel da educação no combate à violência doméstica, o secretário e desembargador aposentado José Renato Nalini pontuou que todos os problemas brasileiros podem ser solucionados pela instrução. Ele iniciou sua apresentação destacando que as pessoas têm dois lados, o bom e o mau, e o mais incentivado será o mais forte. “A educação é dever do Estado e da família. A mulher tem um compromisso valioso com esse desenvolvimento”, pontuou Nalini que acredita na civilidade como um instrumento eficaz contra comportamentos violentos. “É importante lembrar que a polidez não é uma conquista da burguesia. Precisamos mostrar às crianças que ser polido não é coisa de ‘nerd’. Depende de nós acionarmos esse interruptor”, ressaltou.
A deputada Célia Leão destacou a importância Do Dia Internacional da Mulher
Na abertura do painel “As mulheres nos espaços de poder”, a deputada Célia Leão destacou que as mulheres estão ocupando espaços na política, na Justiça, no Ministério Público e na Advocacia, mas o Dia Internacional da Mulher ainda se faz necessário. “Por mais que estejamos conscientizadas, precisamos deste dia para lembrar que não podemos abaixar a cabeça, nem tão pouco perder a indignação com os casos de violência contra a mulher”, ponderou a deputada.
A desembargadora do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, Angélica de Maria Mello de Almeida, falou sobre violência contra mulher e lembrou que a lei do silêncio ainda é uma regra em diversas regiões do país
O silêncio de mulheres violentadas e a falta de comunicação entre os órgãos da Justiça foram os assuntos abordados pela desembargadora do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, Angélica de Maria Mello de Almeida. Para ela, ainda há quem não denuncie casos de abuso por medo ou falta de orientação. “Existem zonas mudas que formam um oceano de silêncio. A violência de gênero não pode mais ser aceita”, enfatizou.
A desembargadora enumerou ainda resultados da Coordenadoria Estadual da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar do Poder Judiciário do Estado de São Paulo (Comesp) que é coordenada por ela e tem como objetivo dar efetividade às leis Maria da Penha e do feminicídio. A principal conquista apontada na apresentação foi a descoberta de que até então as medidas protetivas expedidas pelos juízes não chegavam às polícias por uma falha no sistema – identificada pelo trabalho do grupo. “Entendemos que as leis não existem por si só. É necessário o envolvimento dos órgãos”, observou a desembargadora que acredita que esse é o trabalho do grupo formado há dois anos por representantes da prefeitura, do Ministério Público, da OAB, das polícias Civil e Militar.
Fonte: OAB SP